Texto: Leonard Goes (Leo Japa)
Fotos: John Nascimento/ Denn Malloy
A Semana Santa no calendário litúrgico é o período que celebra a Paixão, a Morte e a Ressurreição de Jesus Cristo. No calendário laico é feriado. Feriado, momento de descansar, relaxar, aproveitar. Descobrimos que há duas formas de vivenciar um feriado.
Outra forma de vivenciar as férias produzem uma pertubação não esperada na cabeça do cavalo. Aqueles campos verdes sem cercas começam a mexer lá no fundo da sua alma, justo no lugar que estava enterrado o cavalo selvagem que ele fora um dia, antes do cabresto, do arreio e da castração. E aí um milagre acontece: o cavalo selvagem morto ressuscita, se apossa do corpo do cavalo doméstico, que vira outro e até (re)aprende as esquecidas artes de relinchar, de empinar, de saltar cercas, de disparar a galope pela pura alegria de correr. E de repente, ele se lembra de que está chegando a hora de voltar .. mas ele não quer voltar. Quer ficar.E assim foi o feriado de Semana Santa, em Serra Caiada, produzindo perturbações na cabeça de quem lá estava. Não se buscou matar a fome e sim aumentá-la. Não se buscou satisfação e sim desordem. Não fomos atrás de descanso, compreendíamos que cada minuto de descanso é um minuto a mais de separação do poder para alcançar o escopo. Sem pressa, já que o prazer exige vagareza. Sem anelar o “orgasmo”, sabíamos que com ele vem a morte do desejo, alimentamos a alegria de ver crescer o desejo por mais.
A primeira é quando o cavalo cansado, magro, castrado, vai para uma campina verde, sem alguém que lhe dê ordens, sem hora pra se levantar, sem nada para fazer, é só vadiar, pastar, descansar, correr, dormir, fazer o que lhe der na telha! Passados alguns dias, descansado e gordo, é hora de voltar para onde estava antes ... para o cabresto, cerca, arreio, carroça, esporas e chicotes, para isto que se chama realidade.
E assim se concretizou os quatro dias de retiro: trilhas, escalada (a luz do sol, a luz da lua e a luz de refletores), Jiu-Jitsu, açude, paredão, festas, insonias e dormidas. E a certeza de que não se matou a vontade, a certeza de ter acordado o lado selvagem, domesticado pela chamada realidade. A certeza de não ter se saciado, de querer mais e mais e mais ..
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